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15.1.08 • 20:09
Confissões
Luiz Monteiro

Devo confessar que após escrever minha coluna anterior e ver a mesma publicada na CHRONO, peguei uma edição, envelopei com carinho e me dirigi até o posto dos correios do Distrito de Danielle, onde resido, a poucos metros da Mansão do Luca Dalbianco. O posto fica de frente para a praia mesmo, numa posição privilegiada apenas permitida pelas pouquíssimas construções do Distrito de Veraneio. Enviei para o meu bom e velho amigo Francisco Russo que está de viagem ao velho continente.

Recebi a resposta em poucos dias. Começa me puxando a orelha por chamá-lo de mestre. Humilde como sempre, não consegue externar sua importância para a imprensa portoclarense (sem falar de política, judiciário, relações exteriores e etc), embora eu tenha certeza que ele a concebe. Eis algo que não muda entre nós, continuo rasgando-lhe elogios com dupla felicidade: a primeira de render as homenagens que penso que ele merece e a segundo por ter certeza que ele não se conforma com as mesmas.

Bom, prosseguindo, meu amigo começa advertindo-me que não devo chamá-lo de mestre e prossegue dizendo em termos gerais que o texto está bom mas que pequei pela pomposidade da escrita, sobretudo no início do texto. Explicou-me que não era necessário esgotar todos os recursos lingüísticos de uma só vez e, principalmente, explicou-me que eu tinha o dever de me fazer compreender entre meus leitores, de qualquer tipo, mesmo aqueles que são bem mais novos.

Tá certo, ponto para ele. Ele é ou não é o mestre? Tenho certeza que odiará estes elogios rasgados na imprensa – me deleito pensando nisso. Em nossas trocas de correspondência o mesmo me sugeriu falar um pouco do Direto do Beco, que segundo suas palavras, foi a melhor coisa que nos propusemos a fazer juntos: Eu, ele e Ricardo Jr. O Direto do Beco Escuro nada mais foi que o fruto da idéia, se não me engana a memória, do Ricardo Jr. A proposta era simples: Por que não gravamos nossas conversas, sem edições, sem cortes e mostramos para todo mundo?

Algumas fotos do Golden
Da esquerda para a direita: Russo, Ricardo Jr., Eu, Ex-Juiz Silveira e Braga

Ora, por que não? Era uma idéia bastante instigante. Para melhor explicar isso, elucidarei primeiro estas reuniões que tínhamos. Costumávamos nos encontrar com muita freqüência no Golden Rose, um botequim muito do pé sujo na Rua Voluntários da Pátria, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro que em verdade se chama Rosa de Ouro. Lá, cansei de fechar engradados de cerveja BRAHMA CHOPP com Rafael Braga, que só gostava dessa marca embora eu preferisse SKOL. Bebíamos muito mesmo naqueles tempos.

E desses encontros, regados a muita birita, quase sempre na companhia de Ricardo Jr e Francisco Russo, que nunca beberam nada, nasciam as mais complexas estratégias políticas, ações jurídicas, tomadas de decisões e, algumas vezes, até mesmo o calendário eleitoral de Porto Claro fora decidido ali, em meio a um calendário-folhinha de comercial do Bar. Geralmente os encontros eram aos sábados, começando por volta das 13:00 e indo até o momento de nossa expulsão com balde de água sanitária e tudo, nunca antes da meia noite!

Com o tempo Rafael Braga acabou se mudando para São Paulo em busca de seu amor e os encontros no Golden Rose foram diminuindo de freqüência.

Até que de súbito, como sempre tudo nesta vida micronacional, voltamos a nos encontrar, mas desta vez no centro do Rio de Janeiro. Eu e Ricardo Jr. trabalhávamos lá, o que alterou a geografia de nossos encontros. Começamos a nos encontrar num boteco, muito sujo também. Sempre foi minha predileção estes ambientes absolutamente rasteiros onde ecoam democraticamente todas as vozes do Brasil, como diria Nelson Rodrigues.

O local, bom, só vendo mesmo para acreditar. O bar encontra-se num beco escuro o qual muitas donzelas têm medo de passar. Mentira, muitos homens também. Um local absolutamente escuro, com máquinas caça níqueis e os piores cachaceiros do mundo, movimentando uma áurea negra de medo promovida por conversas bêbadas em alto som e baixo nível. Com a clientela basicamente formada por sujeitos estranhos, palitos nas bocas desdentadas, muitas correntes douradas nos pulsos e nos pescoços, sujeitos que quando não eram altos, eram imensamente inchados de cachaça. Sempre todos suados, todos bêbados, todos falando alto, todos ameaçadores.

Única foto do Beco Escuro

Bingo, lá era meu lugar, ali eu andava com desenvoltura. E lá propus que nos encontrássemos uma vez, e outra vez e assim por diante várias vezes, sempre na parte da noite, sempre após as 19:00 até sermos expulsos. O nome do bar nunca soube, mas Francisco Russo deu o nome sugestivo de Beco Escuro como ficou conhecido. Lá surgiu a idéia de gravarmos as conversas. Daí o nome Direto do Beco Escuro.

Bom, era o ano de 2006 se não falha a memória. Gustavo Mendes acabara de se eleger Presidente da República pela Frente Plural, eu fui nomeado Ministro da Justiça e Francisco Russo nomeado Ministro da Cultura, ambos somos PSDNistas. Eu também havia sido eleito senador. Disputavam a presidência do senado André Szytko do PDL e Fabiano Carnevale da Frente Plural. Neste palco muito interessante começamos a gravar nossas conversas.

Cada programa rendia mais de uma hora de conversa, de forma que para não ficar muito cansativo, dividimos as seções em mais ou menos 10 minutos, o que nos proporcionava programas diários. Para vocês ouvirem como ficou o primeiro programa, segue o link.

Vocês irão perceber o começo tímido de nós três, como por vezes nos atropelávamos, o burburinho da rua e uma batida irritante e constante. Depois descobrimos que era minha mão socando a mesa. Bom, então fomos para casa aquele dia e o trabalho pesado da edição ficava com Francisco Russo e Ricardo Jr. Meticulosamente, Francisco Russo ouvia toda a conversação e depois seccionava o arquivo nos pontos que achava interessante. Por vezes permitindo o fim de um raciocínio, por vezes aproveitando uma pausa normal dos debatedores, por vezes aproveitando a mudança de assunto. Reconheço que era um trabalho pesado e muito bem executado.

Depois passava para mim, para dar uma escutada e ver como ficou. Raras vezes pedia que modificasse uma secção e apenas em duas vezes sugeri a censura do que foi dito. Uma vez fui pouco elogioso ao Claudio de Castro, Imperador de Reunião, e fiquei com medo de um processo judicial na esfera macro. Na segunda vez tivemos que cortar algumas palavras do Luca Dalbianco, não pelo conteúdo, mas pela sua péssima dicção que deixou ininteligível o programa.

Ricardo Jr. cuidou da vinheta. Trabalhou com cuidado uma música de fundo bem maneira, fazia a apresentação dos convidados, às vezes dava pistas do que seria debatido, tudo terminando num fade out perfeito.

Essa era a práxis, mas no primeiro programa não foi assim. Francisco Russo e Ricardo Jr. fizeram toda a edição sozinhos, eu estava com meu computador quebrado à época. Então não tinha a dimensão do trabalho realizado, não sabia o que esperar, não estava acostumado a ouvir minha voz gravada e nunca ouvira falar de um programa gravado no micromundo.

Sabem como eu ouvi o primeiro programa? Pelo telefone, isso mesmo. Ricardo Jr. finalizou o arquivo, ligou para mim, aumentou o volume e encostou o aparelho do telefone na caixa de som. Ouvi dez minutos, em silêncio, vibrando por dentro, por aquilo que sabia que era um bom trabalho. Mais até, era uma aventura, colocaríamos nossas opiniões, ao vivo, sem cortes, com palavrões, com erros de português para todo mundo ouvir... e criticar!

Foi uma sensação muito estranha e me lembro até hoje do frio na barriga em lançar este programa. Como iriam reagir? Era pesado, falávamos palavrões, eu criticava muita gente, os rapazes também. Bom, foi um sucesso. Era escutado em vários outros micropaíses, recebíamos e-mails. Era muito, muito bom. Pediam para participar também. Acabamos encorajando outros micronacionalistas, como Lima do LimaPodCast e o Veloso que também fez algo com podcast.

Foram muitos programas, fomos melhorando bastante com o tempo, tudo foi ficando cada vez mais interessante. Mudamos o local para o Cine Odeon, porque no meio da Rua tornou-se impraticável devido ao barulho. Certa vez entrevistamos o então Presidente Gustavo Mendes por Skype. Foi bastante marcante.

O programa acabou pela completa falta de agenda entre nós três. Ricardo começou a estudar para a Petrobras – hoje é empregado, isso tomou muito do tempo dele. Eu e Russo também tivemos nossos problemas de horário. Nunca mais fizemos o Direto do Beco como acabou sendo abreviado e conhecido, mas a vontade de voltar nunca desapareceu.

Assim que o Francisco Russo voltar de sua viagem, faremos um, com certeza. Espero que gostem.

Luiz Monteiro
é o Chanceler da República de Porto Claro

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Comentários
Momento Nostálgico

muito bom

Anonymous Anônimo   15 janeiro, 2008 22:58

Fantástico Monteiro... Li as histórias que eu ouvi tanto do "Direto do Beco Escuro, e por viver em SP, e sem o devido tempo de conhecer o pessoal "ao vivo", só curtia esses momentos vendo e ouvindo esses relatos.
Dois momentos memoráveis dessa tua coluna. quando cita Nelson Rodrigues e quando diz sobre a "péssima dicção"do Dalbianco...rs...Ele vai responder!!
Lhe deixo meus parabéns eaproveito para fechar com outra frase do Nelson Rodrigues, que diz bem o que acontecia nos "botecos", com uam pequena alteração...

- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes portoclarenses passam por ele.

Abs
Ruggero

Anonymous Anônimo   16 janeiro, 2008 09:41

Não sei o que dizer... vc tem toda razão, odiei estes elogios! Sei que são sinceros, mas vc sabe que não gosto deste tipo de idolatria, de badalação, nunca fiz algo visando isto. E vc fazer e ainda dizer isso me desmontou completamente. Touché!

Obrigado. Não consigo pensar em nada além disto. Estou realmente sem palavras, para seu deleite.

Lendo a Chrono em plena viagem,

Francisco

Anonymous Anônimo   16 janeiro, 2008 21:19